Atualmente o tratamento biomédico completo para Transtornos do Espectro Autista (TEA) é determinado por vários exames de análise clínicas de sangue, urina, fezes e outros mais específicos como mineralograma e exame de peptídeos de glúten (proteína presente em diversos cereais) e caseína (proteína do leite). Os resultados dos exames orientam a necessidade de intervenção dietética, nutricional, suplementação vitamínica e pode incluir o uso de medicamentos homeopáticos. De acordo com a Autism Speaks, alterações gastrointestinais ocorrem em cerca de 85% das crianças diagnosticadas com espectro autista. Novas descobertas e pesquisas em andamento apontam para um novo modelo de tratamento para crianças com esse diagnóstico.
Para esclarecer sobre o novo modelo, de se pensar o autismo, o Getid trouxe ao Recife Dra. Geórgia Regina Fonseca, Pediatra, Homeopata, Especialista em saúde mental, desenvolvimento infantil e desordens do comportamento. Coordenadora do Ambulatório de Autismo da FHB e com Formação em Tratamento Biomédico para Autismo no Autism Research Institute (ARI) nos EUA. Na palestra, que ocorreu dia 10/03/12, no Colégio do Bureau Jurídico, a médica levou o público presente, formado por pais, familiares, amigos, psicólogos, pedagogos e médicos a refletir sobre a nova abordagem para tratamento do TEA, confrontando a abordagem Modular, que entende o TEA como geneticamente determinado, com sede no cérebro, neuroquímico e com sintomas tratáveis, mas, não curável, com a abordagem Sistematizada, que percebe o TEA como intimamente ligado a fatores ambientais, geneticamente influenciado, abrangendo múltiplos sistemas orgânicos, com grande influência metabólica, tratável e com possibilidade de recuperação. Para a médica, as pessoas usam modelos antigos ou rejeitam os novos porque não se dispõem a estudar para conhecer. A Dra. Martha R. Herbert MD, PhD, Neuropediatra do General Hospital Harvard Medical School, nos EUA, trata desse novo modelo em um artigo intitulado: Autism: a brain disorder or a disorder that affects the brain? Publicado em 2005. Em português Autismo: uma desordem cerebral ou uma desordem que afeta o cérebro?
O sistema Modular tradicional entende que o gen causa um insulto pré-natal, que resulta em uma alteração estrutural fixa, entretanto, questões como a epigenética (relação entre os gens e o ambiente) e o aumento da incidência do TEA colocam em questão o determinismo genético puro. Não há provas contundentes de alterações pré-natais e em contrapartida muitas evidências de mudanças no período pós-natal. As alterações cerebrais vão além das fisiológicas e a conexão entre o cérebro e o restante do corpo não pode ser desprezada. Somam-se a isso os casos de crianças que vêm melhorando dia após dia. Todos esses fatores contribuem para essa mudança de paradigma no tratamento a ser adotado. O Dr. Steve Hyman Diretor do Stanley Center for Psychiatric Research at the Broad Institute of MIT and Harvard e Ex-diretor do National Institute of Mental Health (NIMH) reforça essa posição ao dizer que “já se foi a noção de que existe um único gen como causador de qualquer desordem mental ou que determine qualquer variante de comportamento. O conceito de gen causativo foi substituído pelo de complexidade genética, na qual múltiplos gens agem em conjunto com fatores não genéticos para produzir o risco de desordem mental.”
Na apresentação o TEA foi citado como uma das epidemias modernas, números de pesquisas americanas apontam para um aumento de 1500% nas duas últimas décadas, juntamente com TDAH 400%, asma 300% e alergia 400%. O número de mortes por asma aumentou 56%. Parte do aumento pode ser explicada pela idade do diagnóstico, inclusão de casos moderados e pela mudança de critérios do DSMIV. A estatística de 05 de outubro de 2009 do National Childrens Institute of Health, publicada na revista Pediatrics, aponta 1 criança em cada grupo de 91 com traços do TEA, ou seja, aproximadamente 1% das crianças americanas. Não existem números oficiais no estado de Pernambuco.
No final, uma série de perguntas e respostas permitiu ao público detalhar questões e esclarecer dúvidas sobre esse novo modelo de tratamento.
O Getid agradece a Dra. Geórgia por nos trazer informações tão relevantes, ampliando a possibilidade de desenvolvimento das crianças com TEA em nossa região.
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