O conceito chave por trás do modelo
que eu defendo é afetividade... eu quero mostrar pra vocês como tudo flui
através de relacionamento e afetividade. Primeiro, vamos pensar a respeito no
desenvolvimento do sistema nervoso central: o cérebro e a mente. Quando um bebê
nasce, ele nasce com algumas poucas capacidades que o trazem ao mundo. Eles
podem olhar, ouvir, usar seus sentidos, eles têm algumas preliminares
capacidades de perceber padrões, como olhar para o rosto da mãe ou do pai
depois de um pequeno espaço de tempo, discriminar alguns tons de voz,
diferentes sabores, entre outras sensações, mas são muito preliminares. A maior
parte do cérebro e da mente desenvolve-se após o nascimento. Isso faz sentido
em termos evolucionais porque permite que o cérebro e a mente humana se adaptem
ao ambiente. Por essa razão, os bebês humanos são tão indefesos e é por isso
que as espécies mais desenvolvidas têm desenvolvimentos pós-natais. A maioria
das espécies vêm pré-ligadas. Portanto, muitos dos nossos primos animais vêm
ligados com alguns padrões básicos. E eles parecem mais competentes ao nascer,
mas eles são menos adaptáveis. Aqueles que vêm mais indefesos, e que precisam
de mais tempo de cuidados dos pais, desenvolvem mentes maiores, cérebros mais
flexíveis e são mais adaptados a padrões. Portanto, a maior parte do nosso
funcionamento é em resposta ao ambiente.
Muitos
filósofos e neurocientistas perguntam-se: como a consciência se desenvolve?
Como desenvolvemos essa consciência de que você existe enquanto ser humano?
Como nos tornamos conscientes; como dizemos:
-
Eu sou uma pessoa zangada; eu sou uma pessoa feliz, etc.
Para
fazer julgamentos, você tem que ter consciência em primeiro lugar. Eu estava
lendo um artigo de jornal onde neurocientistas estavam discutindo acerca da
consciência; eles não conseguem achar uma área do cérebro que produz
consciência; não conseguem achar áreas combinadas que juntas formam
consciência. Portanto, brotam conceitos como: a consciência é uma propriedade
do cérebro, mas ninguém sabe o que isso significa e alguns colegas dizem:
-
Nós nunca poderemos responder a essa pergunta, é um problema insolúvel. O
problema da consciência humana.
Eis
aqui o segredo. E vocês o disseram alguns minutos atrás. A consciência não é
uma propriedade do cérebro. É uma propriedade do relacionamento e da
afetividade que o relacionamento produz. A consciência emerge de relações
sociais e da afetividade produzida nesses relacionamentos. Portanto, os bebês
têm essas capacidades fisiológicas básicas: eles podem tocar, cheirar, ouvir e
ver. Mas, como esses padrões básicos possibilitam o surgimento da consciência e
se tornam experiências afetivamente vivas que, por sua vez, se tornam o
comandante dessa consciência e do posterior desenvolvimento? Bem, quando mamãe
responde ao olhar do bebê com diferentes texturas de voz, o bebê começa a
transformar esse levante em algo prazeroso ou aversão. Se ela reclama com ele,
é aversão; se a voz é doce e meiga, é prazeroso. Essas interações de texturas
diferentes criam mais variações na afetividade. A voz, o movimento, todos os
aspectos das habilidades do bebê. Estas interações criam processos fisiológicos
transformados através de relacionamentos em afetividade, que é o primeiro
sentimento de “estar vivo”. Então, à medida que avançamos nos níveis funcionais
emocionais e você se engaja mais completamente com aquele grande sorriso, você
está experimentando um amplo gradiente afetivo. Então, quando você começa a
interagir com a afetividade, no nosso estágio 3, para comunicação intencional
recíproca, abrindo e fechando círculos, então você começa a experimentar o
“eu”, os primeiros sinais tendo um impacto no “você”. E consciência se torna
uma noção mais definida e mais diferenciada e, à medida que subimos a escada
para o ponto que chamamos de resolução de problemas compartilhada, você começa
a juntar as muitas interações afetivas recíprocas em um fluxo continuo e é por
isso que, no programa, sempre tentamos manter as crianças em fluxo contínuo de
trocas afetivas, porque isso é o fundamento de tudo o que vem depois. Sem isso,
você não pode ter linguagem, você não pode fazer parte do mundo. E você não
pode estar consciente sem uma interação contínua com o mundo. Se você faz isso
de forma descontínua, 5 círculos e depois se fecha, você ficará intocável. Você
precisa ter esse contínuo fluxo de interações com o mundo. Isso cria resolução
de problemas e reconhecimento de padrões, então você está apto a ampliar essa
pequena noção de self. Então, aos 18 meses, você tem uma noção de
self muito antes de poder falar. Um senso de self pré-verbal.
Nós
descobrimos que com crianças com desordens do espectro autista, este senso de
self pré-verbal, através do fluxo contínuo de interações afetivas, é crítico
para o desenvolvimento de consciência que o senso de self precisará para ir até
níveis mais altos de pensamento. E, dependendo de quão eficientemente mantemos
este fluxo, determina se a linguagem se tornará funcional e criativa ou rote
memory e repetitiva e prediz, assim pensamos, se a criança irá
alcançar o ponto de apresentar empatia, humor e, eventualmente, se tornar um
pensador, ao invés de um memorizador. Então, vamos ao estágio 5, onde a criança
começa a usar ideias porque esse fluxo contínuo de afetividade permite que a
criança separe percepção de ação e use imagens como entidades isoladas; essas
imagens são investidas de afetividade e experiências, desenvolvem significados
e nós temos símbolos verdadeiros. Uma vez que tenhamos símbolos verdadeiros
através de brincadeiras de fingimento e através de diálogo verbal, a criança
aprende a conectar símbolos e a responder as perguntas “Que” e “porquês”:
porque você está feliz, triste, porque você quer sair e, então, o
relacionamento está dando certo. Estes são os nosso 6 estágios
fundamentais das nossas capacidades funcionais emocionais. Tudo começando com
relacionamento e afetividade. Tudo levando a níveis mais altos de consciência.
Agora, nós temos pensamento multi causal, o que chamamos de pensamento de “área
cinzenta” e, finalmente, pensamento reflexivo quando podemos dizer coisas como:
-
Eu estou mais zangado do que deveria. Eu concordo com Mark Twain e não
com Tolstoi porque Mark Twain é mais similar a mim em sua educação, etc.
Portanto, estes são os 9 níveis de
nossas capacidades funcionais emocionais. Todos começaram com afetividade.
Agora, em identificação mais cedo... em intervenção preventiva, nós temos que
fazer essa afetividade funcionar. O que pensamos que acontece com crianças com
autismo e todo o gradiente de desordens do espectro é que, biologicamente, por
uma variedade de razões, algumas genéticas, algumas provavelmente pré-natais,
etc., a conexão entre afetividade e planejamento motor, bem como as outras
experiências sensoriais, não é totalmente desenvolvida, não vem facilmente, não
responde à experiência facilmente como em outras crianças. Portanto, há uma
falha no sistema. Mas não está totalmente bloqueado. A via principal parece
bloqueada, mas vias laterais ainda parecem abertas. Portanto, ao conseguir
grandes níveis de afetividade prazerosos no início da vida, nós podemos
desenvolver essas vias laterais. Em algumas crianças, talvez, até abrir as vias
principais. É isso que temos descoberto com muitas das crianças. Parte disso
tem a ver com padrões neurológicos diferentes. Algumas crianças tiveram mais
sucesso do que outras. Mas nós sempre descobrimos novas formas de ter mais
sucesso com mais crianças.
Dr. Greenspan / 1998
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